Concordo totalmente com essa frase do Ayrton. Ponto! Gosto muito quando encontro profissionais, independentemente do grau hierárquico, dedicados, competentes e comprometidos com o seu trabalho. Em contrapartida, algo que me deixa muito preocupado é quando encontro pessoas sem qualquer comprometimento, dedicação ou competência para tal – preocupado porque sei que os riscos envolvendo a segurança patrimonial, as perdas ou fraudes, que são minha responsabilidade, serão agravados.
Existem pessoas que são excelentes tarefeiras. Fazem o previsto – nada mais. Se esforçam e se dedicam para acabar logo o seu serviço e se livrar da responsabilidade. Trabalham olhando para o relógio. Se você perguntar qual a raiz quadrada de quatro ou pedir para fazer uma simples regra de três, não vão saber, mas sabem calcular com exatidão quantas horas, minutos e segundos faltam para terminar seu turno de trabalho.
Uma das áreas na qual trabalho é a segurança patrimonial. Frequentemente me encontro com Porteiros, Vigilantes, VSP’s, Fiscais de Piso e afins, e é frustrante a quantidade de tarefeiros. Pessoas que nem podem ser chamadas de profissionais. Estão lá somente para cumprir a sua escala e ir embora, sem qualquer comprometimento para com o serviço. Abaixo conto uma situação que se repete frequentemente.
Para resumir o fato, houve um assalto! Uma moradora de um condomínio residencial, ao sair da garagem, por volta de 04h00, teve o seu veículo fechado por um carro desconhecido. Assustada, engatou a marcha ré e acabou colidindo com um poste de iluminação pública. Saiu do carro correndo e gritando, enquanto dois agressores desembarcavam do outro carro e partiam para o carro da vítima, a fim de verificar se tinha algo de valor. Depois de pegarem o que interessava, voltaram para o carro que estava bloqueando a via e foram embora. Polícia Militar fora acionada, assim como o guincho para remover o veículo.
Tudo isso aconteceu durante o turno noturno. Durante o dia, o Porteiro não sabia de nada. O Zelador e o Síndico do condomínio não sabiam de nada. Nenhum outro morador, com exceção da vítima, sabia de nada. Como sei de tudo isso? Fui chamado, pela vítima, para avaliar os riscos nesse condomínio, após o incidente. Maiores detalhes eu conseguiria com o Vigia da rua, durante a noite. O Vigia da rua tinha anotado até a placa do veículo dos agressores. Nem isso o Porteiro fez!
Em conversa com a empresa de segurança responsável pelos Porteiros, foi-me dito que eles são apenas controladores de acesso. Ok, mas custava registrar o fato no Livro de Ocorrências? Será que esses profissionais não poderiam adotar medidas preventivas de forma a garantir a segurança dos outros moradores?
Eu não estou falando que eles deveriam sair de sua guarita blindada e ir pra rua combater o crime. Estou falando de providências como:
- Coletar o máximo de informações da ocorrência, como envolvidos, horário, descrição do fato, descrição dos agressores, descrição do veículo etc.
- Registrar essas informações no Livro de Ocorrências. Transmitir os fatos para o Porteiro Diurno, Zelador e Síndico;
- Coletar imagens da ação, através das imagens das câmeras do monitoramento;
- Coletar imagens dos agressores e distribuir entre os outros prédios da rua e da região;
- Recomendar uma reunião com o Síndico e Conselho Administrativo para discutir a questão da segurança;
- Recomendar a elaboração de comunicado para todos os moradores, reforçando a segurança preventiva e orientando como agir em caso de assaltos;
- Solicitar uma reunião com o Supervisor da empresa de segurança, responsável pelos Porteiros, para receber orientações sobre como proceder caso o veículo ou agressores fossem vistos na rua novamente.
Se o Porteiro não tem capacidade de gerenciar uma situação dessa, então que a empresa de segurança, por meio de seus Supervisores ou Coordenadores assumam a responsabilidade, mas o que não pode ser aceito é ninguém fazer nada! É necessário treinamento, acompanhamento, realização de simulações envolvendo os principais tipos de sinistros que podem acontecer. Só desta forma, se poderá esperar que o colaborador aja corretamente em uma situação fora da rotina.
Além disso, quantas vezes já ouvi “até sabia que estava errado, mas não era minha responsabilidade” ou “não era o meu departamento” ou “não sou pago pra isso”. Sabe o que eu acho dessas pessoas? Não são profissionais. São tarefeiros! Cumprem a sua tarefa, geralmente com muita energia e rapidez. Até porque, quanto antes acabar, antes vão embora. Tarefeiros são ótimos, mas as vezes lhe faltam a capacidade de pensar. São do tipo “me mandaram fazer isso, estou fazendo!”. Além disso, se você o pressionar muito, ele trava! Pelo o que tenho visto, muitos profissionais têm se tornado tarefeiros.
As vezes pergunto se essas pessoas não querem se destacar, crescer, se tornar Supervisores, Coordenadores ou Gerentes de Segurança, mas estão sempre na zona de conforto. O que ganham é suficiente para manter a família no padrão que eles consideram adequado e pronto. Pra quê fazer mais, me esforçar mais se o que tenho é suficiente? Outros dizem que não vale a pena pois nunca serão promovidos. Se esta é a visão, que procurem outra empresa que valorize mais seus colaboradores e que faça o seu serviço de forma a ser notado positivamente.
Reforço minha admiração pelos profissionais que se destacam em sua área, que tem atitudes proativa e liderança sobre a equipe. Essas pessoas devem ser identificadas e motivadas a manter esse ritmo, já que agregam valor! Quanto as outras, deve ser feito um trabalho de acompanhamento, de forma a identificar por quê o colaborador não rende o esperado.
Poderia alongar mais o texto falando sobre coleta de informações, inteligência, prevenção, motivação e vários outros tópicos, mas vou deixar para aprofundar nos próximos textos. Aproveito para terminar este com outra frase do Senna – “No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.”
E no seu condomínio, seja ele comercial ou residencial, a Equipe de Segurança está apta a gerenciar crises?
Forte abraço!
